À EVASÃO EXISTENCIAL. AO ENCONTRO DO ELO SUMIDO.

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(¸.•´ (¸.•`-* Muito bem-vindos! ●๋•




09 junho 2009

DOBRADA À MODA DO PORTO





Um dia, num restaurante,
Fora do espaço e do tempo,

Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente, que a dobrada
(e era à moda do Porto)
Nunca se come fria.


Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.


Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...



(Sei muito bem que na infância
De toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).



Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, por que é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio. Mas veio frio.


(Álvaro de Campos. Fonte: Jornal de Poesia)

3 comentários:

  1. Explêndido!

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  2. Texto lindão!
    Engraçado que teimei com alguém que era de sua autoria...
    "Não Monique, não é do seu amigo.Eu conheço autor."

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  3. Não. O autor é uma das vozes de Pessoa (está citado entre parênteses).

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